domingo, 20 de setembro de 2009

Caso Baiano:Julgamento de Hildebrando Pascoal será nesta segunda

Nayanne Santana

Após dez anos da vinda ao Acre da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Narcotráfico, que investigou crimes atribuídos ao esquadrão da morte e que levou à prisão do ex-deputado Hildebrando Pascoal, nesta segunda-feira, dia 21, às 8 horas, o homem que ficou conhecido pelo crime da motosserra, chamado também de caso Baiano, sentará no banco dos réus. Estima-se que esse seja o último capítulo de uma história que se iniciou há mais de uma década.

Além de Hildebrando Pascoal, sentam-se no banco dos réus Pedro Pascoal Duarte Pinheiro Neto, Alex Fernandes Barros e Adão Libório de Albuquerque, que seriam cúmplices do ex-deputado e membros do esquadrão da morte. Os três serão julgados pela morte de Agílson Firmino dos Santos, o Baiano.

O início
De acordo com a denúncia do Ministério Público do Acre (MPE), os crimes atribuídos ao esquadrão da morte iniciaram-se em 1996, quando o policial militar Itamar Pascoal, irmão de Hildebrando Pascoal, foi assassinado por José Hugo.

No inquérito do MPE, consta que, após assassinar Itamar Pascoal, Hugo fugiu da capital por temer ser assassinado. Diz o inquérito que José Hugo foi à residência onde morava e pegou a esposa, Clerismar Alves, e os dois filhos, Hávila Santos e Arelc Santos, para levá-los para uma fazenda distante de Rio Branco.

Segundo o MPE, após deixar a esposa e os filhos em uma propriedade rural, o assassino de Itamar teria fugido da capital acriana.

O Ministério Público informa no inquérito que os homens ligados ao esquadrão encontraram a esposa e os filhos de José Hugo. Os três foram levados por Alex, por Manoel Maria, o Coroinha, e por Nei para uma propriedade de Alípio Ferreira. No local, a esposa de Hugo teria sido interrogada por Alex para saber onde José Hugo escondia-se.

De acordo com o documento, os três reféns teriam sido levados para a residência de Hildebrando Pascoal e permaneceram no local, em cárcere privado.

Ainda em 1996, Hugo foi assassinado no Piauí. O MPE informa que foram espalhados cartazes pela cidade de Rio Branco, oferecendo recompensa de R$ 50 mil a quem informasse onde estava José Hugo.

A morte de Baiano
Segundo o inquérito do MPE, após a morte de Itamar Pascoal, instalou-se no Acre a lei de talião, que diz que seria a reciprocidade do crime e da pena.

Para o Ministério Público, Agílson Firmino, o Baiano foi um inocente que morreu como vítima de um grupo. Baiano era o motorista de José Hugo quando Itamar foi assassinado. Para o Ministério Público, a morte de Baiano foi por motivo torpe e se deu por vingança.

O inquérito narra que a caça a Baiano iniciou-se entre os dias 1º e 2 de julho de 1996, quando uma equipe de busca, liderada por Alex, prendeu ilegalmente Agílson Firmino em um posto de gasolina de Sena Madureira. Segundo inquérito, Alex entregou Baiano a Hildebrando Pascoal, que naquele momento teria iniciado a tortura de Baiano.

De acordo com o MPE, Hildebrando conduziu Baiano a um galpão propriedade de Alípio Ferreira, onde, por várias horas, Agílson, sob a vigilância de policiais militares, permaneceu com mãos e pés algemados.


Após ser mantido em cativeiro por várias horas, Baiano foi levado por Adão Libório, por Sete Pascoal, por Amaraldo Uchôa e por Pedro Pascoal ao local onde o MPE afirma que foram cometidos os atos de tortura e que culminaram com assassinato de Agílson Firmino.

“O homicídio foi praticado com requintes de crueldade mediante provocação de intenso sofrimento físico à vítima, que, ainda viva, teve seus olhos perfurados, seus braços, pernas e pênis amputados com a utilização de uma motosserra, além de um prego cravado na sua testa, culminando com atos de tortura com vários disparos de arma de fogo desferidos por Hildebrando Pascoal contra a cabeça da vítima”, descreve o inquérito.

O inquérito segue dizendo que, depois que Baiano estava mutilado e morto, o que restou do corpo foi jogado em frente a uma emissora local por Hildebrando Pascoal e por Adão Libório. Isso seria para intimidar as autoridades que atuavam no Acre naquela época.

Defesa questiona acusações
O advogado criminalista Sanderson Moura, que atuará na defesa de Hildebrando Pascoal, vem ao longo dos últimos dias afirmando que o MPE tem um inquérito que acusa o ex-deputado de ter envolvimento direto no assassinato de Agílson Firmino, mas Sanderson ressalta que não há provas concretas sobre a acusação.

Em 1999, Waltermir Gonçalves de Oliveira, o Palito, informou durante a vinda da CPI do Narcotráfico ao Acre que teria uma fita de vídeo onde aparecia Hildebrando Pascoal torturando e serrando o corpo de Baiano. Contudo, Sanderson lembra que essa fita nunca apareceu para provar o que Palito alegava ser a prova do crime da motosserra.

O jornal Folha de São Paulo noticiou em 1999 que Palito afirmava ter comprado a fita de um presidiário que teria roubado cinco fitas de um sargento da Polícia Militar do Acre ligado ao ex-deputado Hildebrando.
Sanderson afirma que espera que Hildebrando tenha um julgamento justo. Essa será a primeira vez que o ex-deputado se pronunciará sobre um crime de que é acusado há mais de 10 anos.




sábado, 19 de setembro de 2009

Henrique revela que ainda não absorveu a punição



O deputado federal Henrique Afonso, eleito pelo Partido dos Trabalhadores (PT), ainda está muito abalado após ser punido pelo diretório nacional da legenda, que decidiu suspender o parlamentar por três meses das atividades partidárias e proibi-lo de participar por dois anos como representante do partido como membro titular ou suplente da Comissão de Seguridade Social Saúde e Família da Câmara dos Deputados.

“A minha expectativa era que o partido respeitasse aquilo que consta dentro do seu estatuto, que é assegurado o direito à liberdade de expressão”, ressaltou Afonso.

O parlamentar foi recebido por várias lideranças evangélicas na sede da Igreja Renovada, que manifestaram apoio à posição do deputado federal. Os líderes declararam que o deputado foi correto ao ser contrário à legalização do aborto.

Visivelmente emocionado, Henrique Afonso adiantou que ainda não decidiu se irá se filiar à outra legenda. Ele disse que ainda está assimilando o que ocorreu na quinta-feira, quando teve de passar por um julgamento com cerca de 10 horas.

“Eu vou conversar com a minha família, que está toda em Cruzeiro do Sul, e ainda não está entendendo bem o que aconteceu”, contou
De acordo com Henrique, nesse momento delicado de sua carreira política, ele relembra a sua atuação na na militância do Partido dos Trabalhadores.
“Eu sou um homem de utopia, eu sou um homem de ideal. Isso tudo me traz uma retrospectiva do que foi feito. Cruzeiro do Sul e o Juruá foram o campo de militância de minha história de vida e, hoje, ir ao Juruá nesse cenário de condenação, porque eu estou defendendo a vida, é uma coisa que nem eu ainda estou absorvendo”, questiona.

O deputado observa que o posicionamento dele é baseado numa realidade jurídica que dá a ele direito de expressar a crença que ele tem. Segundo Henrique, isso é um direito que não pode ser cerceado e nem violado em nenhuma sociedade democrática.

“Infelizmente, hoje, eu não posso me expressar”, lamenta o parlamentar.
Ele lembra que nunca passou por um julgamento, mas ele ressalta que a causa é nobre. De acordo com ele, não se trata de um caso, mas sim de um causa. (Nayanne Santana)

Seguir na política
O deputado federal adiantou que, após conversar com a família e com as lideranças políticas que o apoiam na defesa da vida, é que tomará uma decisão sobre o seu destino político.

Henrique, por enquanto, não confirma se deixará o PT para se filiar à outra legenda, mas garante que não deixa a política.

“Sair da política, eu não posso sair, é aí que está a minha missão, é onde está meu ministério. Há quase três décadas, eu atuo na luta por uma sociedade melhor, e o partido político é um espaço que oferece à sociedade caminhos, alternativas e mudanças. Eu não posso estar fora do cenário político. Eu vou estar presente onde eu possa expressar ao mundo os meus valores”, garantiu.

Texto: Nayanne Santana

Leandro Gross garante realização de julgamento do caso Baiano



O juiz Leandro Leri Gross, titular da Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Rio Branco, garantiu que não há possibilidade do julgamento do caso Baiano ser adiado e ressaltou que fará o que for possível para que tudo ocorra na normalidade.

“Não existe nenhuma possibilidade jurídica desse julgamento não acontecer. Todas as testemunhas foram devidamente intimadas, os acusados, os advogados, o Ministério Público Estadual. Essas notícias não refletem a verdade” garantiu.

O juiz afirmou que, se for preciso parar o júri para buscar uma testemunha em Cruzeiro do Sul, isso será feito. O importante, para o magistrado, é que o júri ocorra dentro da normalidade.
Segundo o magistrado, há possibilidade do julgamento durar por três ou quatro dias. Na segunda-feira, dia 21, o juiz informou que o júri iniciará pontualmente às 8 horas da manhã e deve encerrar às 22 horas.

Esquema da imprensa e da segurança
Durante a coletiva realizada no júri, o juiz informou a imprensa como funcionará o esquema das empresas de comunicação que acompanharão o julgamento do caso Baiano. O juiz também informou que haverá um esquema de segurança nas ruas próximas ao Fórum Barão do Rio Branco, ele adiantou que a rua Benjamin Constant ficará interditada enquanto durar o julgamento.

Leandro ressaltou que as medidas são para garantir que não haja nenhum problema em frente ao fórum na movimentação das viaturas que ficarão no local.

“O plano de segurança está muito bem elaborado, mas não pode ser divulgado, porque, como o próprio nome diz, é por questões de segurança”, declarou.

O juiz disse desconhecer a informação de que o helicóptero do governo do Estado será usado no esquema de segurança desta segunda-feira.

O magistrado lembrou que o Conselho Nacional de Justiça aprovou o pedido dele no qual ficou decidido que o julgamento não poderá ser filmado ou fotografado, foi permitida apenas a gravação de voz.

A única emissora que poderá filmar e fotografar o julgamento será a TV Justiça. Os meios de comunicação poderão ter acesso às imagens que forem cedidas pela TV Justiça.

Segundo o juiz, os repórteres poderão utilizar notebook, mas, em hipótese alguma, poderão gravar imagens do julgamento. Ele disse que será disponibilizado à imprensa cerca de 20 lugares dentro do júri para que as equipes possam acompanhar o julgamento.

Requerimentos da defesa aceitos
O advogado criminalista Sanderson Moura, que atua na defesa do ex-deputado Hildebrando Pascoal, apresentou quatro requerimentos ao juiz do Tribunal do Júri e todos foram aceitos.
O primeiro pedido do advogado de defesa foi para que seja respeitada a súmula 11 do Superior Tribunal Federal (STF), que diz não pôr algema no preso se ele não oferecer riscos à ordem pública, mas, se for colocada a algema, é preciso que haja notificação em cima de um fato concreto.

No segundo pedido, Sanderson requereu que o acusado e o defensor tivessem direito de se comunicarem durante o julgamento, fazer apontamentos um para o outro por escrito ou oralmente.

“Para que isso aconteça, é preciso que não tenha entre o advogado e o Hildebrando nenhum obstáculo de ordem física, por exemplo, uma mesa. Isso que se chama plenitude de defesa. Eu pedi ao juiz que providencie um espaço para que eu fique lado a lado com o acusado”, adiantou.
O terceiro requerimento foi para que o juiz garanta ao réu Hildebrando Pascoal que se defenda pelo tempo que ele julgar necessário durante o interrogatório. O quatro pedido é que ex-deputado tenha direito de permanecer no julgamento.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

TJ decide que imprensa terá acesso a julgamento de Hildebrando Pascoal

O Pleno do Tribunal de Justiça do Acre (TJAC) decidiu a imprensa poderá ter acesso ao julgamento do caso Baiano. Os magistrados decidiram que a portaria do juiz do Tribunal do Júri da Comarca de Rio Branco, Leandro Leri Gross, não terá validade para o julgamento que terá como um dos réus, Hildebrando Pascoal.

Cinco membros da corte do Pleno do TJAC afirmaram não ser válida a decisão do juiz que informava que o julgamento do caso Baiano não poderia ser filmado, gravado ou fotografado.

O recurso que pedia que a imprensa tivesse acesso ao julgamento foi protocolado no Tribunal de Justiça pelo advogado do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Acre (Sinjac), Jonathan Santiago no dia 3 deste mês.

O presidente do Sinjac, Marcos Vicentti comemorou a vitória na Justiça. Marcão não estava presente na sessão, mas aguardava ansioso o resultado da ação. “Essa é uma vitória da categoria”, comemorou.

Carta de Hildebrando

No início deste mês, o ex-deputado Hildebrando Pascoal, principal acusado pelo assassinato de Agílson Firmino, o Baiano, enviou uma carta ao juiz Leandro Leri Gross informando que gostaria que o julgamento no qual é réu fosse aberto a imprensa.

Hildebrando dizia na carta que gostaria que o “julgamento dele fosse acompanhado de forma irrestrita pelos meios de comunicação, permitindo também que eu possa registrá-lo por meio áudio-visual”.

Texto: Nayanne Santana

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Advogados do Caso Baiano terão mais tempo para defesa

A Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Acre (TJ-AC) não acolheu o mandado de segurança do Ministério Público do Estado que pedia a redução do período destinado à explanação dos acusados do caso Baiano. O juiz Leandro Leri Gross, do Tribunal do Júri da Comarca de Rio Branco, concedeu uma hora e meia para a explanação da defesa dos réus. Antes, cada advogado teria apenas 37 minutos. Entre os acusados do caso Baiano, está o ex-deputado Hildebrando Pascoal.

Para o relator do processo, desembargador Feliciano Vasconcelos, casos como esse, o Supremo Tribunal Federal (STF) informa que não cabe o mandado de segurança.

O advogado de defesa de Hildebrando, o criminalista Sanderson Moura, disse que a decisão da Câmara Criminal demonstrou que o TJ está fazendo valer o princípio da plenitude da defesa.

“Os desembargadores compreenderam que não houve ilegalidade na decisão do juiz Leandro Leri Gross. Parabéns ao TJ, porque entendeu que o julgamento de Hildebrando Pascoal seja justo. O Acre deve garantir um julgamento justo ao réu e é isso que está acontecendo com a decisão dos desembargadores”, frisou Sanderson Moura.

O advogado diz que o erro cometido pelos membros do MPE demonstra a infantilidade da instituição. “Uma instituição madura deve garantir o direito do réu”, ressaltou o criminalista.

O promotor do MPE Rodrigo Curti declarou que o órgão só deverá se manifestar sobre a decisão após ser comunicado oficialmente.

Por: Nayanne Santana

TRE cassa mandato de Juarez Leitão


O prefeito de Feijó, Juarez Leitão (PT), teve seu mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Acre (TRE-AC).

Por quatro votos a dois, os membros que compõem o Tribunal acataram o pedido encaminhado à Justiça pelo candidato Raimundo Ferreira Pinheiro, o Dindim, quem concorreu à vaga de prefeito pelo PSDB.

O relator do processo, juiz Jair Facundes, baseou seu voto na consistência das provas de compra de voto que estavam anexadas ao processo. O juiz disse que o que define se houve ou não crime eleitoral em um processo são as provas e, com base nesse entendimento, cassou o mandato de Leitão.

Facundes disse que o prefeito deveria ser condenado a pagar como multa o valor de 30 mil Ufirs, que deverá ser realizado novo pleito eleitoral no município de Feijó num prazo máximo de 60 dias, a contar a partir da data de publicação da decisão do TRE.

O juiz também votou pelo afastamento do gestor Juarez Leitão do cargo de prefeito assim que fosse anunciada a decisão da corte eleitoral.

De acordo com a decisão do TRE, Leitão não poderá participar da nova eleição que será realizada no município de Feijó.

Os votos

O voto do relator Jair Facundes foi seguido pelas juízas Denise Bonfim e Marinha Penha e pela desembargadora Eva Evangelista. Os votos contrários à cassação foram de Maurício Hohenberg e do juiz Ivan Cordeiro.

O advogado Odilardo Marques, que atua na defesa de Juarez Leitão, deverá recorrer da decisão do TRE acriano ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Com o afastamento do prefeito de Feijó, quem assume a gestão municipal é o presidente da Câmara de Vereadores, Cláudio Braga, até que seja realizado novo pleito eleitoral.


Por: Nayanne Santana
Foto: Agência Aleac

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Henrique Afonso será julgado na sexta. Parlamentar diz que espera por absolvição




Nayanne Santana


O deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores do Acre (PT-AC) Henrique Afonso está com o mandato na berlinda desde o ano passado. Henrique pode ser expulso do PT por ser contra o aborto.


O pedido de expulsão do parlamentar acriano foi feito pela Secretaria Nacional de Mulheres do PT em junho de 2008, em um encontro de Brasília.


A secretaria pediu que o partido entrasse com processo contra o parlamentar acriano e contra o deputado federal Luiz Bassuma (PT-BA), que também é contra o aborto. Na época, foi divulgada uma nota em que Henrique Afonso explicava como foi formalizado o pedido de expulsão ou de punição.


Segundo a nota, a Secretaria Nacional de Mulheres, que faz parte da Executiva Nacional do PT, entrou com uma representação que solicita a instalação ‘imediata de Comissão de Ética’ para os deputados federais Luiz Bassuma (PT-BA) e Henrique Afonso (PT-AC), porque ambos tinham posições públicas contra a legalização do aborto no Brasil.


Após sete meses de adiamentos do julgamento, nesta semana acontece mais uma etapa do desenrolado dessa história. Na sexta-feira, dia 17, o PT julgará o pedido de expulsão do parlamentar.


Em entrevista exclusiva A TRIBUNA, ele fala sobre as expectativas para o julgamento sobre ser contra o aborto, sobre o convite para se filiar a outras legendas e a vontade de permanecer no PT.

A Tribuna: Por que o senhor está respondendo a um processo na Comissão de Ética do Partido dos Trabalhadores?

Henrique Afonso: Em 2007, foi aprovado no 3º Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores uma resolução que determina que o PT estivesse lutando pela descriminalização do aborto no Brasil. Assim, a partir de 2007, esperava-se que todos os parlamentares federais, filiados ao Partido dos Trabalhadores, votassem a favor de projetos de lei que tivessem como objetivo a legalização do aborto e ainda apoiassem e participassem de iniciativas que visassem descriminalizar a interrupção da gravidez.

Não respondi com as expectativas do partido e agi diferente da maioria dos parlamentares petistas, pois o estatuto do partido me garante o respeito às convicções religiosas e aos princípios ideológicos. Portanto, votei contra a legalização do aborto, protestei contra as iniciativas que visam sua liberação e fui além, ou seja, liderei movimentos em todo o país contra o aborto, participei como expositor de seminários, simpósios, conferências, ministrei palestras, liderei e participei de caminhadas e manifestos e ainda estive em programas de rádios e de televisão, debatendo e falando sobre a defesa da vida humana e contra o aborto.
Dessa forma, a Secretaria Nacional de Mulheres do PT, entendendo que eu deveria ser punido por não obedecer a Resolução do 3º Congresso Nacional apresentou uma Representação contra mim que se transformou em processo que tramita na Comissão de Ética há mais por longos 7 meses.


A Tribuna: Por que o senhor é contra o aborto?


Henrique Afonso: Tenho a firme convicção, com base em argumentos científicos e teológicos, que a vida tem inicio na fecundação. Desta forma não posso aceitar o aborto, pois entendo ser ele um atentado contra a vida humana. Assim, creio que um embrião é uma criança em formação e um feto é individuo em formação e não apenas um aglomerado de células.


A Tribuna: O que o senhor espera do julgamento, que será no próximo dia 17 de setembro?


HF:
Que o PT reconheça que não desrespeitei o Partido, que não fui infiel, ou afrontei as lideranças. Que o Diretório Nacional, órgão que me vai me julgar, apenas reconheça que exerci o meu direito de manifestar minha posição corajosa diante de um tema tão delicado que é o aborto.
Espero, acima de tudo, que Partido dos Trabalhadores considere a necessidade de respeitar a liberdade de seus filiados de expressarem as questões de natureza ética, filosófica e religiosa.
Espero a minha absolvição com base no Parágrafo Segundo do Artigo 67 do Estatuto do PT que diz que é direito do filiado, ser dispensado do cumprimento de decisão coletiva, face a graves objeções de natureza ética, filosófica ou religiosa, ou de foro íntimo.


A Tribuna: Que projetos o senhor apresentou na Câmara em defesa da vida?

HF: Não apenas apresentei inúmeros Projetos de Lei em defesa da vida humana. Fiz muito mais. Na Câmara dos Deputados ajudei a organizar a Frente Parlamentar da Família e Apoio a Vida, da qual sou hoje um de seus coordenadores; participei também da formação da Frente Parlamentar Contra a Legalização do Aborto; liderei movimentos para colher assinaturas visando a instalação da CPI do Aborto e ainda criei e coordeno a Jornada Nacional em Defesa da Vida e da Família, um movimento que viaja por todo o Brasil falando de sérios temas que afetam a vida humana e a família brasileira como pedofilia, aborto, pornografia, violência doméstica, eutanásia, abandono de idosos, além do aborto.


Com todo este trabalho acabei escrevendo muitas propostas legislativas em forma de Projetos de Lei, PECs (que são as Propostas de Emendas à Constituição), Indicações ao Poder Executivo, Requerimentos, Projetos de Decretos Legislativos, etc.


Tenho propostas que visam defender o nascituro, combater a pedofilia e a pornografia, acabar com o infanticídio em áreas indígenas, investigar e punir os abusadores de crianças e adolescentes, amparar e proteger os moradores de rua, os idosos, as gestantes, etc.
As minhas iniciativas em defesa da vida humana e da família têm repercussão no Brasil e no mundo, pois ousei tocar em temas polêmicos. Todo minha luta já me rendeu títulos e homenagens, tanto no Brasil como no exterior por grupos pró-vidas em reconhecimento ao trabalho que desenvolvo.

A Tribuna: O senhor recebeu convite para filiar-se a outras legendas? Quais?


HF:
Desde quando veio a público, por meio da imprensa, que poderia ser punido com expulsão do Partido, algumas legendas me procuram. Recebi inclusive, em meu gabinete em Brasília, a vista de presidentes nacionais de Partidos com propostas para disputar os mais variados cargos no próximo pleito eleitoral.


A todos os interlocutores reiterei meu desejo em permanecer no Partido dos Trabalhadores, que por 20 anos ajudei a consolidar. Mas também deixei todos informados que só tomaria uma decisão final após o resultado do julgamento do dia 17 de setembro.

A Tribuna: O senhor pretende deixar o PT?

HF: Nunca foi minha intenção abandonar o Partido, pelo contrário, em minha defesa escrita e em meu depoimento pessoal junto à Comissão de Ética manifestei meu interesse em continuar no Partido. No entanto, que fique bem claro que só decidirei se permaneço ou não no PT depois do julgamento.


Assim, vou esperar até lá. Se for expulso do PT ou obrigado a me desfiliar, vou buscar o diálogo com Partidos que têm afinidade com os princípios e valores que defendo.


A Tribuna: Desde que o senhor se candidatou pelo PT o senhor é evangélico e sempre se mostrou favorável a defesa dos valores da vida e da família, isso certamente levou muitos cristãos a votarem no senhor para serem representados na Câmara. Levando isso em consideração, o senhor não acha que os partido deveria respeitar a sua opinião?


HF:
A minha posição firme e convicta contra a interrupção da gravidez nunca foi desconhecida pelo Partido. Desde minha filiação, em 1997, os dirigentes do PT sabem de minha orientação religiosa e dos princípios de regra e fé que regem minha crença. Minha filiação foi aceita, homologada, e minha permanência mantida ao longo dos anos.

Meu trabalho e minha contribuição para a consolidação do Partido sempre foi recebido e nunca antes a minha posição pessoal incomodou ou contrariou qualquer segmento do Partido dos Trabalhadores. No entanto me causa estranheza que só agora a Secretaria de Mulheres vem afirmar que estou causando “aborrecimento e desapontamento” às mulheres petistas. O que mudou ao longo do tempo: minha crença ou a postura da Representante em aceitar, tolerar e respeitar as diferenças e a diversidade?


Durante a minha campanha eu firmei compromisso com o povo do Acre que defenderia a vida humana desde a concepção e foi este povo que me elegeu. Esta foi minha plataforma de campanha. Fui eleito com essa bandeira e não vou mudar a minha posição e meu discurso e o Partido dos Trabalhadores precisa entender isso. Se eu não podia falar como parlamentar contra o aborto então o PT não me dessa legenda para ser candidato ou me dissessem isso lá trás, antes das eleições, que aí teria repensado se ficaria ou não no Partido.


Quero, por fim, registrar que além do compromisso com o meu eleitor, tenho o compromisso com minha consciência e aqui faço questão de registrar que: prefiro dizer não ao mundo servindo a Jesus que dizer não a Jesus servindo ao mundo.

Foto: Agência Câmara